Em um ano no qual muitas empresas brasileiras enfrentam dificuldades para obter financiamento através dos canais mais tradicionais, uma nova alternativa é apresentada ao mercado brasileiro. Representante da bolsa de valores CSE (Canadian Securities Exchange) de Toronto, no Canadá, Miloud Hassene veio ao Brasil em busca de companhias interessadas em abrir seu capital no exterior. O custo relativamente baixo de listagem da CSE, e a oportunidade de receber aportes de grandes fundos estrangeiros institucionais, são alguns dos chamarizes utilizados pelo adviser da CSE. Os setores de energia, tecnologia e infraestrutura, e companhias com um corpo executivo reconhecido pelo mercado, devem ser as primeiras a fazer a listagem de seus papéis, prevê o executivo. Confira a seguir a entrevista concedida à Investidor Institucional.
Investidor Institucional – Qual o perfil de empresa que a CSE busca para abrir seu capital no Canadá?
Miloud Hassene – A CSE foi desenhada para empreendedores, ao contrário da TSX [Toronto Stock Exchange], mais voltada para as grandes companhias. A CSE facilita ao pequeno empreendedor, à empresa emergente, entrar na bolsa e se capitalizar. A empresa não precisa ser uma SA, pode ser uma limitada, ou uma startup sem histórico de lucro. Pode ser uma oferta de 1 milhão de dólares canadenses de uma startup, ou uma de 200 milhões de uma empresa de energia.
II – Quais são os requisitos que a companhia precisa atender?
MH – A empresa deve ter suas contas auditadas no modelo IFRS, feito por uma empresa de auditoria registrada no Canadá. Também é necessário ter um board constituído, e um membro do conselho com experiência prévia em empresas listadas em bolsa. O custo de entrada para ingressar na CSE é de 15 mil dólares canadenses, e o custo mensal gira em torno de 500 dólares canadenses.
II – Quais são os setores que despertam mais a atenção dos investidores que aplicam na CSE?
MH – O ambiente de investimento na América do Norte é favorável principalmente para os setores de energia limpa, tecnologia e infraestrutura, os fundos institucionais adoram infraestrutura. Projetos de hidrelétricas, por exemplo, ou de energia eólica, com certeza vão gerar o interesse dos fundos. Os institucionais gostam muito de projetos de energia porque eles tem garantia de compra por períodos longos, de 20 anos. Os investidores enxergam quase como uma oportunidade de renda fixa, com um rendimento pré-estabelecido por um tempo determinado. E o recuo do BNDES no financiamento para as geradoras de energia deixou um espaço que pode ser preenchido pelos investidores estrangeiros.
II – A iniciativa da bolsa CSE pode incentivar o aumento dos investimentos domésticos nas empresas?
MH – Os investidores de fora gostam de ver o institucional do Brasil investido na empresa brasileira, o que não vem ocorrendo, ou menos do que gostaríamos, talvez por não serem listadas, sem liquidez. Estamos chamando os institucionais brasileiros para se juntar a nós para investir em empresas brasileiras e vencer a crise.
II – Alguma empresa brasileira já demonstrou interesse em abrir o capital na CSE?
MH – Várias demonstraram interesse, e já estão em processo de estruturação para entrar na bolsa. Em breve teremos algumas empresas brasileiras listadas. O IPO é o mais conhecido, mas a metodologia mais frequente para entrar na CSE é a ‘reverse takeover (RTO)’, pelo qual uma empresa já constituída e reconhecida pela Ontario Securities Comission faz uma fusão com uma companhia brasileira, e cria uma nova empresa que se lista na bolsa. Isso acontece muito com empresas de mineração.
Data: 02 de Setembro de 2015